Enciclopédia Açores XXI
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'''Vulcão dos Capelinhos''', localizado na Ponta dos Capelinhos, freguesia do [[Capelo]], municipio da Horta, na [[Ilha do Faial]]. Se insere no complexo vulcânico do Capelo, constituído por cerca de 20 cones de escórias e respetivos derrames lávicos, ao longo de um alinhamento vulcano-tetónico de orientação geral WNW-ESE. Veja também [[Geologia da Ilha do Faial]]. O nome Capelinhos se deveu à existência de dois ilhéus chamados de "Ilhéus dos Capelinhos".
 
 
O vulcão se manteve em atividade por 13 meses, entre 27 de setembro de [[1957]] e 24 de outubro de [[1958]]. A erupção dos Capelinhos, provavelmente terá sido uma sobreposição de duas erupções distintas, uma começada a 27 de Setembro de 1957, e a segunda, a 14 de maio de 1958. A partir de 25 de outubro, entrou em fase de repouso. Do ponto de vista vulcanológico, deverá ser considerado um vulcão potencialmente ativo.
 
 
== Marco na vulcanologia ==
 
O vulcão dos Capelinhos é reconhecidamente um marco na vulcanologia mundial. "Foi uma erupção submarina devidamente observada, documentada e estudada, desde do início até ao fim. Apareceu em condições privilegiadas, junto de uma ilha habitada, com estrada, farol e telefones privativos." - comenta o vulcanólogo Prof. [[Victor Hugo Forjaz]]. Com 16 anos, acompanhado de seu pai, Dr. [[António Lacerda Forjaz]], presidente em exercício da [[Junta Geral do Distrito da Horta]], assistiu ao início da erupção. Este se tornou afetivamente no "seu vulcão".
 
 
O engenheiro [[Frederico Machado]], então Diretor das Obras Públicas, auxiliado pelo Eng. João do Nascimento e o topógrafo António Denis, foi o pioneiro na sua investigação científica. O Tenente-coronel [[José Agostinho]], então diretor do Observatório Metereológico de Angra do Heroísmo, sobrevoou a erupção. O Observatório Metereológico da Horta (Príncipe Alberto I do Mónaco), chefiado por Bernardo Almada, emitiu diversos boletins sismológicos de grande valor. A 24 de março de [[1964]] é inaugurado o Museu Geológico do Vulcão, que documentando toda a sua atividade eruptiva.
 
 
A área em torno do vulcão, classificada como paisagem protegida de elevado interesse geológico e biológico, integra a [[Rede Natura 2000]]. O [[Farol dos Capelinhos]] foi transformado num miradouro, e junto deste, funciona o Centro Interpretativo do Vulcão dos Capelinhos, inaugurado em maio de [[2008]].
 
 
[http://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:Vulcapelinh.jpg ] Em resultado da erupção, entre os meses de maio a outubro de 1958, a área total da ilha (de 171,42 Km2) aumentou em cerca de 2,50 Km2 (para 173,02 Km2 ). Atualmente, essa área foi reduzida para cerca de metade (aprox. 172,42 Km2) devido à natureza pouco consolidada das rochas e à ação erosiva das ondas. A escalada do vulcão apresenta alguns riscos, devendo por isso ser efetuada nos trilhos indicados e sob orientação de um guia credenciado. Convém mencionar que o respiradouro do vulcão, situado no seu Cabeço Norte, liberta vapor de água e gases tóxicos com temperaturas entre os 180ºC a 200°C.
 
 
== Erupção capeliniana ==
 
A designação erupção vulcânica tipo capeliniana, que por direito natural era sua, não foi prontamente patenteada pelo Eng. Frederico Machado. Em [[1963]], no sul da Islândia, surgiu uma erupção idêntica - o vulcão Surtsey. Os vulcanólogos ingleses rapidamente adotaram terminologia "surtseyana", quando na verdade deveria ter sido "capeliniana".
 
 
== Emigração faialense ==
 
A crise sísmica associada à erupção vulcânica e a queda de cinzas e materiais de projeção originaram a destruição generalizada das habitações, terrenos agrícolas e de pastagens nas freguesias do Capelo e da Praia do Norte. Não houve perdas humanas a registar. Beneficiando da solidariedade demonstrada pelos EUA, milhares de sinistrados faialenses - e não poucos açorianos de outras proveniências - aproveitaram a quota especial de emigração concedida ( por persistente diligência dos congressistas estaduais Joseph Perry Júnior e John Pastor, de Rhode Island, e do senador John Kennedy, de Massachusetts, que pouco depois seria eleito Presidente dos EUA ) e procuraram refazer as suas vidas naquele país. Foi a 2 de setembro de [[1958]], aprovado o "Azorean Refuge Act" autorizando a concessão de 1500 vistos. A quebra demográfica na ordem de cerca de 50%, contribuiu para uma melhoria de vida na população residente, a nível de mais oportunidades de trabalho e melhoria dos salários.
 
 
[http://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:CapelinhosFaialAzores.jpg]
 
 
== Crise sísmica e erupção ==
 
 
== Primeira fase eruptiva ==
 
De 16 a 27 de setembro de 1957, registou-se uma crise sísmica na ilha com mais de 200 sismos, de intensidade não superior a grau V da Escala de Mercalli. No dia 23 de setembro de 1957, a água do mar começou a fervilhar. Três dias depois, a actividade aumentou intensamente havendo emissão de jactos negros de cinzas vulcânicas com cerca de mil metros de altura (atingindo a altitude máxima de 1400 metros) e uma nuvem de vapor de água que subia por vezes a mais de 4 000 metros.
 
 
A 27 de Setembro, teve início pelas 6h45 uma erupção submarina a 300 metros da Ponta dos Capelinhos (ou seja, a 100 metros dos Ilhéus dos Capelinhos). A partir de 13 de outubro, a emissão de gases e as explosões de piroclastos, ainda que violentas passaram a ser menos frequentes. Estas foram rapidamente sucedidas por explosões violentas, atirando bombas de lava e grandes quantidade de cinzas para o ar, enquanto que, por baixo, correntes de lava escorriam para o mar. A erupção continuou intensa até 29 de outubro, com constantes chuvas de cinzas sobre oa Ilha do Faial que destruíram culturas agrícolas e forçaram a evacuação das populações das zonas mais próximas do vulcão.
 
 
A erupção evoluiu formando primeiro uma pequena ilha a 10 de outubro, chamada de "Ilha Nova" ou "Ilha dos Capelinhos", e ainda, de "Ilha do Espírito Santo", com 600 metros de diâmetro e 30 metros de altura, ficando com a cratera aberta ao oceano. Dada a temperatura, a emissão de materiais revelou um tom acinzentado. A ilha atingiria por fim os 800 metros de diâmetro e 99 metros de altura. Esta primeira pequena ilha se afundou na cratera, no dia 29 de outubro.
 
 
Munido da sua câmara de filmar, Carlos Tudela e Vasco Hogan Teves, repórteres da RTP, desembarcaram a 23 de outubro na ilha recém-nascida, na vertente do vulcão activo. Acompanhado do jornalista Urbano Carrasco, do ''Diário Popular'', arriscaram as suas vidas num pequeno barco remado por Carlos Raulino Peixoto para colocar a bandeira nacional na "Ilha Nova".
 
 
== Segunda fase eruptiva ==
 
A 4 de novembro de 1957, a erupção vulcânica recomeça e rapidamente se formou uma nova ilha. Com a formação de um istmo, no dia 12 de novembro, a nova ilha se ligou à Ilha do Faial. A atividade eruptiva aumentou progressivamente, atingindo o seu máximo na primeira quinzena de dezembro, surgindo um segundo cone vulcânico. A 16 de dezembro, depois de uma noite de chuvas torrenciais e abundante queda de cinzas, cessou a atividade explosiva e começou a efusão de lava incandescente, a que se juntaram, três dias depois, as explosões com jatos de cinzas e muitos blocos de pedra. Precisamente no dia 29 de dezembro, a actividade eruptiva conheceu uma nova e breve pausa.
 
 
== Terceira fase eruptiva ==
 
De janeiro a abril de 1958, reapareceram jactos pontiagudos de cinzas, geralmente acompanhados de fumos brancos ou acastanhados. Em março, os Ilhéus dos Capelinhos já haviam desaparecido definitivamente sob manto das cinzas e areias, tendo estas formado dois areais de apreciável dimensão, chegando a atingir vários metros de espessura junto ao farol e nas áreas adjacentes, o que levou ao soterramento de casas e à ruína dos telhados de muitas habitações. No início de 1958, John Scofield, repórter da revista ''National Geographic'', e o famoso fotógrafo Robert F. Sisson, passaram um mês a documentar as várias fases da erupção.
 
 
Depois da violenta crise sísmica na noite de 12 para 13 de maio, em que houve mais de 450 sismos, a erupção dos Capelinhos sofreu reajustamentos profundos no edifício vulcânico e na estrutura tectónica. A partir de 14 de maio, a atividade passou ao tipo estromboliano, com fortes ruídos, acompanhados de ondas infra-sónicas que fizeram estremecer portas e janelas em toda a ilha e, por vezes, nas ilhas próximas, e com a projecção de fragmentos de lava incandescente que iam a mais de 500 metros de altura. Também nesse dia, surgiram fumarolas no fundo da Caldeira (o vulcão central da ilha), que emitiam vapor de água com cheiro a enxofre e com lama em ebulição.
 
 
A erupção constituiu "um espetáculo grandioso", um misto de belo e horrendo que jamais será esquecido por quem o presenciou. É legado transmitido para as gerações seguintes. A erupção prosseguiu por mais uns meses, consistindo em explosões moderadas do tipo estromboliano com várias correntes de lava, a última das quais a 21 de outubro, sendo observado no dia 24 de outubro, pela última vez a emissão de fragmentos incandescentes.
 
 
== Referências ==
 
* ''National Geographic Magazine'' de 6/1958
 
* Jornais ''Telégrapho'' e ''Correio da Horta'' de 28/9/1957;
 
* ''Actividade vulcânica da Ilha do Faial'' (1957-58), Frederico Machado, Porto, 1968;
 
* ''Actividade vulcânica do Faial – 1957 a 1967'', Frederico Machado e Victor Forjaz, Comiss. Turismo do Distrito da Horta, Porto, 1968;
 
* ''Vulcão dos Capelinhos – Retrospectivas'', Vol. 1, Victor Forjaz, OVGA, São Miguel, 1997;
 
* ''National Geographic Portugal'' de 9/2007, pág. 4-19;
 
* ''Vulcão dos Capelinhos - Memórias 1957/2007'', Victor Forjaz, OVGA, São Miguel, 2007; ''Boletim Cultural da Horta'', n.º 16, 2007)
 
 
== Ligações Externas ==
 
* [http://www.vulcaodoscapelinhos.org Vulcão dos Capelinhos - 53 anos]
 
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Edição atual desde as 10h50min de 14 de novembro de 2014