Enciclopédia Açores XXI
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O '''paquete Slavonia''', transatlântico da Cunard Steam Ship Co. Lda, partira de Nova Iorque no dia 3 de junho de [[1909]], transportando 225 tripulantes e 372 passageiros – dos quais 272 de segunda classe e 100 de primeira classe com destino a Trieste, cidade do nordeste da Itália, no Mar Adriático. O paquete arqueava 10 606 toneladas brutas, tinha 160 m de comprimento, duas máquinas a vapor alimentadas por 6 caldeiras com 18 fornalhas e era propulsionado por dois hélices que lhe conferiam uma velocidade média de 13 nós.
Naufrágio do RMS Slavonia
 
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Alguns dos passageiros de 1ª classe ao saberem que o paquete passaria a 160 Km a norte da [[Ilha do Corvo]], fizeram chegar ao comandante, Arthur Dunning, um pedido escrito para que este alterasse a rota de maneira a que se pudessem observar bem as ilhas dos Açores.
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O comandante Dunning planeou rodear a Ilha das Flores pelo sul, numa rota afastada de terra cerca de 6 milhas náuticas para só então prosseguir no seu curso original. Um forte nevoeiro que se abateu sobre o navio na noite de 9 de junho e por uma forte corrente marítima desviou o navio, entre o meio-dia e as 2h da manhã do dia 10, da rota prevista.
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Às 2h30 da madrugada, movido a toda a força das máquinas, o Slavonia entrou proa adentro pela costa do [[Lajedo (freguesia)|Lajedo]], junto do [[Ilhéu da Baixa Rasa]], a cerca de 1 Km da Ponta dos Fenais. Com a popa ainda emersa, o fogo a arder nas fornalhas das caldeiras e a luz elétrica ainda operativa, o posto de radiotelegrafia emitiu um SOS desesperado. O pedido de socorro foi recebido pelo paquete germânico Batavia, da empresa rival Hamburg-Amerika Linie, que imediatamente se dirigiu para o local em socorro.
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Entretanto o Slavonia, abalado em toda a estrutura pelo encalhe violento, a agitação do mar causou o colapso do compartimento até então estanque da ré levando a popa a mergulhar progressivamente no mar. A água chegou finalmente às caldeiras e, às 8h00 da manhã, o fogo das fornalhas apagou-se. O comandante Dunning, abalado pela perda do navio que comandava interinamente, visto ter pedido a reforma em Nova Iorque, alegando um estado de saúde precário tentou várias vezes suicidar-se, no que foi impedido pelo telegrafista do navio.
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Entretanto, o "Batavia" tinha já ancorado na vila das [[Lajes das Flores]] e preparava-se para embarcar a maioria dos passageiros para, posteriormente, os fazer desembarcar em Nápoles. As operações de desembarque se processaram ordenadamente quer através dos escaleres dos transatlânticos envolvidos quer através de um cabo vaivém passado entre a costa e o barco.
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Com os passageiros e a maior parte da tripulação embarcada e a bom recato, permaneceram apenas na ilha o comandante Dunning, o imediato J. Anderson, o engenheiro Davies, o comissário W. Pitts e um carpinteiro. Até aquela altura apenas uma parte da bagagem se tinha conseguido salvar pela proa e todos os esforços do rebocador "Condor" para safar o navio foram debalde. A 16 de junho a seguradora Lloyd’s declarou a perda total do navio.
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A praia era vigiada pela Guarda-fiscal visto que, nos primeiros dias do naufrágio parte da carga onde se incluía uma mala do correio com valores declarados tinha sido desviada pelos naturais da ilha (ainda hoje se encontram artigos do "Slavonia"). A carga de café, o cobre restante, três automóveis e os destroços do navio ainda hoje lá estão, estimando-se na altura, os prejuízos em cerca de 15 mil contos.
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Concluída a operação de salvamento, o comandante e o imediato partiram para a [[Ilha Terceira]] onde foram recebidos, a 30 de julho de 1909, por Vieira Mendes, agente da Cunard Line para os Açores. Já em Londres, o capitão Dunning foi levado a tribunal marítimo para apuramento das causas do naufrágio.
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Consta na sentença que o encalhe e a consequente perda do Slavonia foi provocado por erro de julgamento do seu capitão, por este ter estimado uma rota tão incerta a uma velocidade tão elevada em tais condições climatéricas e tão próximo de terra, e por este ter feito confiança em demasia em duas leituras de bússola, manifestamente erradas, que admitiu não ter sido ele próprio a determinar. O Tribunal, em consideração pelo seu trabalho anterior, que foi excelente, e pelos denodados esforços que promoveu para salvar vidas, logo após o desastre, não lhe retirou a sua licença, mas o repreendeu severamente e avisou para ser mais cauteloso, de futuro.
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A imprensa nacional da época recriminou o governo de então por não ter procedido à finalização do farol que dominava o local do naufrágio e que apenas carecia das máquinas e da lanterna.
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== Bibliografia ==
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* António Moraes, "O naufrágio do RMS Slavonia", na ''Revista de Marinha'', setembro de 1995, Lisboa
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== Saiba Mais ==
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* [[Naufrágio da barca Bidart]] em 1915
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* [[Lajedo (freguesia)|Lajedo]], freguesia da [[Ilha das Flores]]
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== Ligações Externas ==
 
[[Categoria:Açores]]
 
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[[Categoria:Arqueologia]]
 
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Revisão das 12h34min de 4 de janeiro de 2012

O paquete Slavonia, transatlântico da Cunard Steam Ship Co. Lda, partira de Nova Iorque no dia 3 de junho de 1909, transportando 225 tripulantes e 372 passageiros – dos quais 272 de segunda classe e 100 de primeira classe com destino a Trieste, cidade do nordeste da Itália, no Mar Adriático. O paquete arqueava 10 606 toneladas brutas, tinha 160 m de comprimento, duas máquinas a vapor alimentadas por 6 caldeiras com 18 fornalhas e era propulsionado por dois hélices que lhe conferiam uma velocidade média de 13 nós.

Alguns dos passageiros de 1ª classe ao saberem que o paquete passaria a 160 Km a norte da Ilha do Corvo, fizeram chegar ao comandante, Arthur Dunning, um pedido escrito para que este alterasse a rota de maneira a que se pudessem observar bem as ilhas dos Açores.

O comandante Dunning planeou rodear a Ilha das Flores pelo sul, numa rota afastada de terra cerca de 6 milhas náuticas para só então prosseguir no seu curso original. Um forte nevoeiro que se abateu sobre o navio na noite de 9 de junho e por uma forte corrente marítima desviou o navio, entre o meio-dia e as 2h da manhã do dia 10, da rota prevista.

Às 2h30 da madrugada, movido a toda a força das máquinas, o Slavonia entrou proa adentro pela costa do Lajedo, junto do Ilhéu da Baixa Rasa, a cerca de 1 Km da Ponta dos Fenais. Com a popa ainda emersa, o fogo a arder nas fornalhas das caldeiras e a luz elétrica ainda operativa, o posto de radiotelegrafia emitiu um SOS desesperado. O pedido de socorro foi recebido pelo paquete germânico Batavia, da empresa rival Hamburg-Amerika Linie, que imediatamente se dirigiu para o local em socorro.

Entretanto o Slavonia, abalado em toda a estrutura pelo encalhe violento, a agitação do mar causou o colapso do compartimento até então estanque da ré levando a popa a mergulhar progressivamente no mar. A água chegou finalmente às caldeiras e, às 8h00 da manhã, o fogo das fornalhas apagou-se. O comandante Dunning, abalado pela perda do navio que comandava interinamente, visto ter pedido a reforma em Nova Iorque, alegando um estado de saúde precário tentou várias vezes suicidar-se, no que foi impedido pelo telegrafista do navio.

Entretanto, o "Batavia" tinha já ancorado na vila das Lajes das Flores e preparava-se para embarcar a maioria dos passageiros para, posteriormente, os fazer desembarcar em Nápoles. As operações de desembarque se processaram ordenadamente quer através dos escaleres dos transatlânticos envolvidos quer através de um cabo vaivém passado entre a costa e o barco.

Com os passageiros e a maior parte da tripulação embarcada e a bom recato, permaneceram apenas na ilha o comandante Dunning, o imediato J. Anderson, o engenheiro Davies, o comissário W. Pitts e um carpinteiro. Até aquela altura apenas uma parte da bagagem se tinha conseguido salvar pela proa e todos os esforços do rebocador "Condor" para safar o navio foram debalde. A 16 de junho a seguradora Lloyd’s declarou a perda total do navio.

A praia era vigiada pela Guarda-fiscal visto que, nos primeiros dias do naufrágio parte da carga onde se incluía uma mala do correio com valores declarados tinha sido desviada pelos naturais da ilha (ainda hoje se encontram artigos do "Slavonia"). A carga de café, o cobre restante, três automóveis e os destroços do navio ainda hoje lá estão, estimando-se na altura, os prejuízos em cerca de 15 mil contos.

Concluída a operação de salvamento, o comandante e o imediato partiram para a Ilha Terceira onde foram recebidos, a 30 de julho de 1909, por Vieira Mendes, agente da Cunard Line para os Açores. Já em Londres, o capitão Dunning foi levado a tribunal marítimo para apuramento das causas do naufrágio.

Consta na sentença que o encalhe e a consequente perda do Slavonia foi provocado por erro de julgamento do seu capitão, por este ter estimado uma rota tão incerta a uma velocidade tão elevada em tais condições climatéricas e tão próximo de terra, e por este ter feito confiança em demasia em duas leituras de bússola, manifestamente erradas, que admitiu não ter sido ele próprio a determinar. O Tribunal, em consideração pelo seu trabalho anterior, que foi excelente, e pelos denodados esforços que promoveu para salvar vidas, logo após o desastre, não lhe retirou a sua licença, mas o repreendeu severamente e avisou para ser mais cauteloso, de futuro.

A imprensa nacional da época recriminou o governo de então por não ter procedido à finalização do farol que dominava o local do naufrágio e que apenas carecia das máquinas e da lanterna.

Bibliografia

  • António Moraes, "O naufrágio do RMS Slavonia", na Revista de Marinha, setembro de 1995, Lisboa

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