Enciclopédia Açores XXI
Advertisement

Ilha de Santa Maria se localiza a sudeste da Ilha de São Miguel e no extremo sudeste do arquipélago, a cerca de 57 milhas (105,5 Km) de Ponta Delgada. É a mais antiga ilha dos Açores. Juntamente com Ilha de São Miguel, faz parte do Grupo Oriental. Tem uma superfície total de 97,07 Km2 e uma população residente de 5 552 habitantes (Censos 2011), com uma densidade populacional de hab./Km2. Possui x eleitores inscritos (Autárquicas 2010). Seu gentílico é mariense.

O município de Vila do Porto, o único da ilha, compreende 5 freguesias:

Geologia

A ilha começou a emergir a cerca de 8 milhões de anos. É a mais antiga ilha dos Açores. Tem uma forma grosseiramente oval, com comprimento máximo no sentido noroeste-sudeste de 16,8 Km, e norte a sul O litoral da ilha é em geral escarpado, atingindo os 340 m de altura nas arribas do lugar da Rocha Alta. Tem um conjunto de promontórios muito pronunciadas (a Ponta do Malmerendo, do Marvão, do Castelo e do Norte), demarcando algumas baías abrigadas com praias de areia branca - São Lourenço e Praia Formosa. Existem ilhéus de dimensão apreciável - o Ilhéu da Vila, o Ilhéu de São Lourenço (também chamado de Romeiro) e o Ilhéu das Lagoínhas.

A ilha está dividida em duas regiões geomorfológicas distintas:

  • Uma extensa região aplanada e de baixa altitude, ocupando os 2/3 ocidentais da ilha, com uma altitude máxima de 277 m nos Piquinhos, com solos argilosos. A baixa altitude gera um clima seco, que dá a esta região da ilha um caráter distintamente mediterrânico, em forte contraste com o resto do arquipélago. No extremo sudoeste desta zona aplainada se situa as freguesias de Vila do Porto, de São Pedro e de Almagreira. O aeroporto de Santa Maria ocupa toda a faixa litoral oeste da ilha, aproveitando a paisagem plana do local sem obstáculos nas zonas de aproximação. Na costa sudoeste, na foz das duas ribeiras que ali confluem, encontra-se uma enseada onde se localiza o porto da Vila do Porto.
  • O 1/3 oriental da ilha é constituído por terras altas muito acidentadas. Nesta região, encontra-se as freguesias de Santa Bárbara e de Santo Espírito, as mais rurais e mais agrícolas da ilha. Situa-se ainda nesta zona, o Pico Alto - o ponto mais elevado da ilha (587 m), o Pico das Cavacas (491 m) e o Pico da Caldeira (481 m). A intercepção da umidade dos ventos leva à formação de nuvens orográficas em torno do pico, propiciando abundante precipitação oculta e dando à área condições para a existência de uma vegetação rica e de alguma agricultura.

Geologicamente, a ilha têm um substrato basáltico deformado por fraturas que seguem a orientação preferencial NW-SW, intercalada uma densa rede filoniana com a mesma orientação. Intercalados nos basaltos se encontram algumas formações de caráter traquibasáltico. Sobre estes encontram-se extensos depósitos fossilíferos, incrustados em depósitos calcários de origem marinha. Foram formados num período de transgressão em que o nível médio do mar se encontraria a cerca de 40 m acima do atual. A presença destes depósitos únicos nos Açores, originou na ilha uma indústria de extração de calcário e fabrico de cal, que atingiu o seu auge no princípio do século XX, encontrando-se há muitos anos extinta.

Sua história

Sua descoberta terá acontecido no regresso das expedições luso genovesas às Canárias, realizadas em 1340-1345, durante o reinado de D. Afonso IV de Portugal. Em 1351, o portulano Mediceo Laurenziano (ou atlas de Mideceu), atualmente na Biblioteca Nacional de Florença, assinala a "Ilha da Cabrera". No atlas catalão de Jaffuda Cresques, de 1375-77, a ilha aparece com o nome de "Isola del Lobo [marinho]", individualizada da "Isola del Cabras", a Ilha de São Miguel. Foi avistada pelo piloto português Diogo de Silves, em 1427. Em 1432, ao serviço do infante D. Henrique, Gonçalo Velho Cabral achou na ilha em viagem de reconhecimento. Data de 2 de julho de 1439, a carta-régia passada pelo infante D. Pedro que autoriza o infante D. Henrique a mandar povoar as ilhas dos Açores.

O povoamento começou com algarvios. Após o desembarque na Praia dos Lobos, junto da Ponta do Cabrestante, fixaram-se na lomba ao longo da ribeira de Santa Ana [ ou Santana, a que se chamou do Capitão ], e a partir daí, dispersaram-se pela ilha. A terra era muito fértil, dava muito trigo e cevada, e muito pastel, o melhor que houve nas ilhas, ... são os gados muito gordos e encevados". Quanto a carne era "muito melhor a de carneiro e de ovelha". (Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra, Livro 3, Instituto Cultural de Ponta Delgada, 2005, pág. 7-8, 65-9; Manuel Monteiro Velho Arruda, Coleção de documentos relaticos ao descubrimento dos Açores, Instituto Cultural de Ponta Delgada, 1977, pág. 134-5)

Gonçalo Velho Cabral tornou-se comendador das ilhas de São Miguel e de Santa Maria. A povoação do Porto, foi fundada por Fernão do Quental, no sudoeste da ilha, no alto de uma lomba sobre uma pequena enseada, entre as pontas do Malmerendo e do Marvão e ladeada pelas ribeiras Grande (atualmente de São Francisco) e do Sancho.

Capitania-donataria

Em carta de 18 de setembro de 1460, o infante D. Henrique, Donatário dos Açores, entregou a autoridade religiosa das ilhas à Ordem de Cristo. Segundo o testamento de infante D. Henrique, datado de 13 de outubro, a ilha veio a pertencer ao infante D. Fernando, seu sobrinho. D. Afonso V de Portugal em carta de 3 de dezembro, confirmou a Donatária dos Açores ao infante D. Fernando, então Duque de Viseu e Mestre da Ordem de Cristo.

João Soares de Albergaria, sobrinho de Gonçalo Velho e seu herdeiro, deu um novo impulso ao povoamento da ilha. A povoação do Porto é elevada a vila e sede de município - em data desconhecida - mas anterior a 1472. Por carta datada de 10 de março de 1474, é confirmada pela infanta D. Beatriz, a Capitania-donataria de São Miguel, com sede em Vila Franca do Campo, a Rui Gonçalves da Câmara, ficando João Soares de Albergaria com a Capitania-donataria de Santa Maria, com sede em na Vila do Porto.

A 18 de fevereiro de 1493, Cristóvão Colombo fez escala no lugar dos Anjos, no regresso da sua primeira viagem à Antilhas ao serviço de Espanha. Em cumprimento de um voto, mandou rezar uma missa na Ermida N. Sra. dos Anjos. Foram presos por ordem de João da Castanheira, lugar-tenente de Soares de Albergaria, até ao completo esclarecimento das razões da sua vinda.

João Soares de Sousa, filho de João Soares de Albergaria e de Branca de Sousa Falcão, que viria a ser o 3º Capitão-do-donatário. Como tinha apenas 6 anos de idade quando seu pai faleceu, ficou a governar a ilha como lugar-tenente durante a sua menoridade, João de Marvão, escudeiro da Casa Real e almoxarife em Vila do Porto.

Soares de Sousa assumiu a capitania por volta de 1522. Sendo o cargo foi confirmado por carta-régia datada de 13 de março de 1527. Este se manteve no cargo até 1571, ano em que faleceu com mais de 78 anos de idade. Foi sepultado na capela-mor da Igreja de N. Sra. da Assunção, junto a porta da sacristia. Na Rua de Gonçalo Velho, na Vila do Porto, existem as ruínas da casa onde a tradição diz ter vivido Soares de Sousa.

Ele desposou Guiomar da Cunha, filha de Francisco da Cunha, um primo do vice-rei da Índia D. Afonso de Albuquerque, e de Brites da Câmara, neta de João Gonçalves Zarco, o 1º Capitão-do-donatário do Funchal. Falecida a primeira esposa, desposou Jordoa Faleiro, filha de Fernão Vaz Faleiro, tabelião em Vila do Porto, e de D. Filipa de Resendes. Falecida esta, desposou em terceiras núpcias Maria de Andrade, filha de Nuno Fernandes Velho. De seus três casamentos, João Soares de Sousa teve 24 filhos.

Do seu casamento com Guiomar da Cunha nasceu Pedro Soares de Sousa, que sucedeu a seu pai como 4º Capitão-do-donatário. Mandou edificar a Ermida de N. Sra. do Livramento, por voto alusivo a tomada da ilha por piratas turcos e argelinos, comandados pelo genovês Tabaqua Raz, em 7 de junho de 1616. Durou quase uma semana a ocupação. Segundo a tradição local, parte da população refugiou-se na Furna de Santana para fugir aos saques, incêndios, torturas e raptos. Em 1675, os piratas regressam à Baía dos Anjos e, quando partem, levam prisioneiros para vender como escravos.

Monumentos e museus

O Forte de São Brás, foi edificado para defesa da Vila do Porto, durante a ocupação filipina (século XVII). Tem no seu interior a Capela de N. Sra. da Conceição. Existe ainda um obelisco em homenagem ao comandante Carvalho Araújo e sua tripupação heróica, do caças-minas "NRP Augusto Castilho". Foi a última baixa portuguesa na I Guerra Mundial.

O Convento de São Francisco original foi fundado em 1607. Destruído pelos piratas em 1616, foi reconstruído em 1725. Atualmente, nele estão instalados alguns serviços públicos. Anexo está a Igreja de N. Sra. da Vitória, com um painel de azulejos de muito valor, do século XVII, representando os milagres de Santo António.

A Igreja da N. Sra. da Assunção, atual Matriz da Vila do Porto, sua construção foi iniciada nos finais do século XV. A Igreja da Misericórdia, de construção anterior a 1536, possui um retábulo da rainha Santa Isabel e uma imagem do Senhor dos Passos, uma das mais bonitas dos Açores. Foi saqueada por corsários franceses em 1576. Sofreu obras de remodelação em 1803. Anualmente desde 1707, desta igreja sai a tradicional procissão do Senhor dos Passos. A Capela de Santa Maria Madalena foi construída em 1594, pelo padre Corvelo Resende. Em 1600, foi nela dita a 1.ª missa. O Convento de Santa Maria Madalena que pertenceu à Ordem de Santa Clara.

Pode ainda ser visitado o Centro de Interpretação Ambiental Dalberto Pombo, na Vila do Porto, inaugurado a 21 de agosto de 2009. Possui um parque florestal em Valverde (4 ha).

Freguesia do Santo Espírito

Na freguesia do Santo Espírito, pode visitar o Parque florestal das Fontainhas (3 ha), o Museu de Santa Maria, a Igreja de N. Sra. da Purificação, a Reserva Natural da Baia da Maia, e o Farol de Gonçalo Velho, na Ponta do Castelo. Este farol iniciou o seu funcionamento no ano de 1927.

A Igreja de N. Sra. da Purificação, em Santo Espírito, a sua fundação é anterior a 1537. No testamento de João Tomé, datado de 13 de março daquele ano, menciona "a casa de N. Sra. da Purificação". Com a sua fachada barroca e campanário azulejado, é o mais belo templo da ilha. Inicialmente, a sede da paróquia esteve na Ermida de Santo António. O seu primeiro vigário, foi o padre Janeanes, e o segundo, Cristóvão Lopes, que foi apresentado a 13 de setembro de 1570. Quando da visita pastoral do então bispo da Diocese de Angra, D. António Caetano da Rocha, em 28 de março de 1766, a igreja já tinha sido ampliada. Era vigário nesse tempo, o padre António José Alves Cabral que dirigiu as obras.

Freguesia do Santa Bárbara

Na freguesia do Santa Bárbara, a Igreja paroquial de Santa Bárbara (século XVIII/XIX) remonta ao início do século XVI, tendo sido grandemente ampliada em 1661. De acordo com Gaspar Frutuoso, foi seu primeiro cura o micaelense Bartolomeu Luiz. Pertence a freguesia, a Reserva Natural da Baia de São Lourenço, uma das baías mais belas dos Açores, com seu ilhéu.

Freguesia da Almagreira

O seu nome evoca a exploração do almagre, um tipo de argila avermelhada rica em chumbo, usada como pigmento. A atual Igreja de N. Sra. do Bom Despacho remonta a uma ermida sob a invocação de N. Sra. do Bom Despacho, erguida pelo capitão Manuel de Moura Landres e sua esposa, Inês Pereira, conforme escritura de 11 de junho de 1702 no Livro do Tombo da Matriz de Vila do Porto. Posteriormente, o então bispo de Angra, D. António Caetano da Rocha, em 2 de dezembro de 1766, criou um curato, "... o 3° da Igreja Matriz em benefício daquele povo e dos mais paroquianos que ficam naquele contorno para a parte da serra".


Freguesia de São Pedro

Sua história remonta a pequena Ermida de São Pedro, erguida no século XVI, no lugar das Pedras de São Pedro, e que Gaspar Frutuoso refere ser uma das quatro ermidas existentes "acima da vila", situada "mais adiante pelo caminho" da Igreja de Santo Antão. Por volta de 1603, à época da visita pastoral do então bispo de Angra, D. Jerónimo Teixeira Cabral, este criou a paróquia de São Pedro, confirmada em 1611 por Filipe II de Portugal. Foi seu primeiro vigário, o padre Paulo Andrade Velho. A cruz processional, em prata lavrada, foi uma oferta daquele soberano à Igreja paroquial.

Conforme informação de Manuel Monteiro Velho Arruda, existe na Torre do Tombo uma carta de Filipe III de Portugal, datada de 4 de abril de 1623, atendendo a pedido do vigário e fregueses de São Pedro, autorizando o lançamento de uma finta para as obras nela declaradas necessárias, por ocasião da visita pastoral do bispo de Angra, D. Pedro da Costa. Até 1698, esta primitiva ermida serviu de sede de paróquia, pois nesse ano, devido ao crescimento da população, levantou-se um novo templo, de maiores dimensões, e em local mais central, no lugar da Rosa Alta. O novo terreno foi adquirido a Belchior Luís Velho, com o recurso ao dinheiro de esmolas e a um empréstimo. A nova igreja apresentava apenas uma nave, tendo a respetiva capela-mor um arco de grande valor artístico, forrado de talha e com as Armas Reais portuguesas. A atual feição do templo remonta à campanha de obras empreendida na segunda metade da década de 1950 pelo então pároco padre Agostinho de Almeida.

A "Banda Recreio Espirituense", fundada em 1923 pelo padre da freguesia, padre Joaquim de Chaves, com a então designação "Sociedade Musical Espirituense". Em 1993, adquiriu estatutos próprios, tornando-se uma associação sem fins lucrativos, adotando a atual designação. Posteriormente, em 23 de março de 1998, obteve o estatuto de utilidade pública, vindo a ser homenageada, em agosto desse mesmo ano, pela Câmara Municipal de Vila do Porto pelos relevantes serviços prestados a nível da animação musical e recreativa. A "Banda 14 de Agosto" foi fundada a 14 de setembro de 1899, na Vila do Porto.

Economia

A sustentação atual da economia da ilha é o setor terciário - com destaque para a atividade aeronáutica e o turismo, emboa seja importante a atividade agro-pecuária e piscatória. Destaque para o Aeroporto de Santa Maria. Sedia o Centro de Controlo Oceânico de Santa Maria da NAV Portugal, onde a região de informação de voo (FIR) abrange área do Atlântico Norte, se estende para sul, até à FIR do arquipélago de Cabo Verde, e a oeste, à FIR de Nova Iorque. É uma das maiores e mais importantes FIR do mundo. Foi ainda instalada uma Estação de Rastreio de Satélites de da Agência Espacial Europeia (ESA). Além de fazer rastreio de satélites de lançamentos de foguetões espaciais, fornece suporte aos projetos da Agência Europeia de Segurança Marítima e de Monitorização e Segurança Ambiental Global.

Saiba Mais

  • Vila do Porto
  • Aeroporto de Santa Maria
  • Farol de Gonçalo Velho, na Ponta do Castelo, freguesia do Santo Espírito (36º 55,72' N / 25º 00,99' W)
  • Estação LORAN de Santa Maria - antigas instalações da OTAN
  • Ilhéus das Formigas (Reserva Natural Regional), compreende tanto os ilhéus a 23 milhas [ 42,6 Km ] a noreste de Santa Maria ] como uma extensa área marítima adjacente, que inclui o recife submerso Dollabarat, a 3 milhas [ 5,56 Km ] a sul-sueste dos ilhéus. (criado pelo DLR 26/2003/A de 27/5/2003)
  • Parque Natural da Ilha de Santa Maria (criado pelo DLR 47/2008/A de 7/11/2008). Integra as Jazidas de fósseis de Santa Maria. Existem cerca 15 jazidas fósseis com idades do final do Miocénico e início do Pliocénico, entre 7 e 5 milhões de anos, e 3 jazidas do Plistocénico, entre 130 e 117 mil anos.

Personalidades

Ligações externas

Advertisement