Enciclopédia Açores XXI
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Fundação 30 de julho de 1568
Orago
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Cedros é uma freguesia açoriana do município de Santa Cruz das Flores, Ilha das Flores. Têm uma superfíce total de 10,55 km2 com 152 habitantes (Censos 2001), o que corresponde a uma densidade populacional de 14,4 hab./km2. A freguesia é uma das mais altas dos Açores, tendo o seu núcleo principal, a povoação dos Cedros, implantada sobre uma alta falésia rodeada por profundos e escarpados vales, sita a cerca de 10 km a noroeste da sede do município. A freguesia é delimitada a sul pelo Vale da Alagoa e a norte pela Ribeira dos Cedros, que a separa da vizinha freguesia de Ponta Delgada. A paróquia têm como orago N. Sra. do Pilar.

A freguesia dos Cedros, tal como a povoação homónima do norte da Ilha do Faial, deve o seu nome à abundância de cedro-do-mato (Juniperus brevifolia (Seub.) Antoine), cuja valiosa madeira foi um dos incentivos à colonização do local. Gaspar Frutuoso, quando afirma que "Além, corre a rocha muito alta e lançada ao mar, vestida de arvoredos de cedros, louros e pau-branco, e povoada de muitas cabras bravas do capitão, ao cimo da qual (que é terra de pão) vivem três ou quatro vizinhos, fregueses de Santa Cruz; ali se chama os Cedros, por haver muitos deles". (Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra, Instituto Cultural de Ponta Delgada, Ponta Delgada, 1966-1980) O alcantilhado do terreno e a elevada altitude e a grande exposição aos ventos levou ao desenvolvimento de núcleos populacionais isolados, autênticas aldeias de montanha, algo pouco comum no povoamento açoriano, em geral linear e prolongando-se ao longo dos eixos viários.

Alagoa, no profundo vale da Ribeira da Alagoa, a cerca de 1 km a sul dos Cedros. Foi neste local edificado a Bateria da Alagoa, que teve por função a defesa da costa contra os frequentes ataques de piratas e corsários. A costa da freguesia existêm duas largas baías: Baia da Alagoa, repleta de ilhéus e rochedos isolados, e a Baia da Ponta Ruiva, oferecendo abrigo suficiente para um pequeno portinho.

Frente à Alagoa, miradouro da Rocha dos Caimbros, de onde se desfruta uma extraordinária paisagem de falésia e mar, com a Ilha do Corvo em fundo, uma profusão de ilhéus, entre os quais se destaca o Ilhéu da Fragata, o Ilhéu do Garajau, o Ilhéu dos Carneiros, e o Ilhéu de Álvaro Rodrigues. Este último foi cultivado até meados do Século XX, tendo uma pequena nascente de água doce.

Apesar da proximidade relativa em relação à vila, a freguesia dos cedros mantém o seu caráter rural, sendo a agricultura e a pecuária, com destaque para o gado bovino, a sua principal atividade económica, embora a carpintaria e o pequeno comércio tenham também algum destaque.

As atividades ligadas à exploração madeireira que sustentaram em grande parte a economia da freguesia decaíram até quase desaparecerem. Aproveitando o micro-clima ameno da Alagoa, a freguesia chegou a ter alguma produção frutícola, coisa rara na ilha. Outra atividade importante foi a moagem, dispondo a freguesia de diversas azenhas (moinhos de água), construídas ao longo da Ribeira das Barrosas e da Ribeira da Alagoa.

A demografia da freguesia acusa o grande declínio populacional que a ilha das Flores sofreu ao longo do Século XX em resultado da emigração para os EUA. Atualmente com menos de 200 habitantes, a freguesia em 1890, aquando do primeiro recenseamento oficial realizado à população, tinha 361 habitantes; em 1910, 326; em 1920, 332; e em 1940, 367, o seu máximo histórico.

Até 1966, ano em que graças à instalação da Base Francesa das Flores foi construída a estrada para Ponta Delgada, os Cedros eram o término da estrada, sendo o acesso à Ponta Ruiva e a Ponta Delgada apenas pedonal (ou por mar, se o tempo permitisse).

São aspetos mais notáveis da freguesia:

  • A aldeia da Ponta Ruiva, com uma arquitectura e composição urbana muito semelhante à Vila do Corvo;
  • O parque da Alagoa;
  • A casa do Espírito Santo de Cima, construída em 1856;
  • A casa do Espírito Santo de Baixo, construída em 1861;
  • A casa do Espírito Santo da Ponta Ruiva, construída em 1861;
  • O moinho de água e a ponte da Alagoa;

Outros Locais: Miradouro da Tapada Nova, e ilhéu de Álvaro Rodrigues

  • Os ilhéus da Baía da Alagoa, hoje Sítio de Interesse Comunitário (SIC);
  • O miradouros dos Caimbros, da Rocha da Gata e do Poço Comprido.
  • A elevação da Tapada Nova

A freguesia realiza a sua principal festa, em honra de N. Sra. do Pilar e de São Roque, no terceiro domingo de Agosto. Tal como todas as outras comunidades açorianas, as maiores festas são o Culto do Divino Espírito Santo, centradas em torno do domingo de Pentecostes.

Sua Historia[]

Dadas as dificuldades impostas pela orografia e pelo clima agreste, o povoamento foi tardio e lento. Dos três ou quatro vizinhos, fregueses de Santa Cruz que Gaspar Frutuoso refere nas suas Saudades da Terra, a povoação dos Cedros foi crescendo até atingir, mais de um século depois, por volta de 1715, cousa de trinta vizinhos. (António Cordeiro, História Insulana das Ilhas a Portugal Sujeitas no Oceano Ocidental, Imprensa de António Pedroso Galvão, Lisboa Ocidental, 1717) O mesmo autor já refere a existência da aldeia da Ponta Ruiva, com alguns moradores e um pequeno porto onde varam batéis, então integrada na paróquia de São Pedro de Ponta Delgada.

Apesar disso, os terrenos em torno dos Cedros, para além de serem terra de pão, desde cedo tiveram grande importância económica, devido à abundância de cedros cuja madeira servia para a construção de barcos para a pesca, de habitações e na manufactura de alfaias agrícolas. Fiel a essa tradição, ainda hoje, o pouco artesanato que se fabrica na freguesia consiste no fabrico de miniaturas em madeira.

Para além da madeira, as fibras da casca do cedro (o seu ritidoma) eram secas ao Sol e entrançadas para produzir cordas de toda a espécie e arreios para bestas e bois. Descrevendo este uso, hoje completamente esquecido, Gaspar Frutuoso afirma que "da casca que tiram dos cedros verdes, de compridão de quatro ou cinco varas, tirando-lhe o seco da banda de fora e ficando no verde de dentro, se servem, como de vimes, para cobrir casas, por haver poucos, e torcendo-os, fazem cordas, que lhe servem como as de esparto, com que prendem os bois e travam carros."

A distância a que as aldeias dos Cedros e da Ponta Ruiva estavam das respectivas paroquiais, com um largo districto entre rochas e ribeiras correntes tempo de inverno de permeio, levou a que os moradores solicitassem ao Bispo de Angra, ao tempo D. Frei Clemente Vieira, que lhes permitisse a desanexação, pondo-lhes um um pároco que continuamente lhes assistisse. Para tal ofereciam-se para eregir à sua custa uma igreja da invocação de N. Sra. do Pilar.

O Capitão-do-donatário, D. Martinho de Mascarenhas, 6.º Conde de Santa Cruz, por cuja comenda era pago o clero das Flores e Corvo, também fez chegar ao bispo a sua concordância, oferecendo-se para fazer e ornar a Capela-mor do novo templo e para doar a imagem da N. Sra. do Pilar. Depois de uma visita ao local, no ano de 1690, feita pelo visitador Pe. António Álvares Pereira de Sousa, que concorda com a elevação dos lugares a paróquia, e de uma tentativa frustrada de vinda de novo visitador, que não chega à ilha, finalmente o deão da Sé, entretanto vacante por falecimento do Bispo, decide emitir o necessário alvará. (Francisco António Nunes Pimentel Gomes, A Ilha das Flores: da Redescoberta à Atualidade, Câmara Municipal das Lajes das Flores, 1997)

Finalmente, os lugares dos Cedros, Ponta Ruiva e possivelmente Alagoa, foram elevados a paróquia a 9 de Julho de 1693, tendo então conjuntamente cerca de 50 fogos e 176 habitantes. A paróquia de N. Sra. do Pilar englobou assim, desde o início, o lugar da Ponta Ruiva. Foi primeiro pároco, o Pe. Domingos Furtado de Mendonça, que tinha de rendimento anual 24$000 réis, duas partes em trigo e uma em dinheiro, de que se fazia pagamento à custa da Comenda das Ilhas das Flores e Corvo, então pertença do Conde de Santa Cruz.

Cumprindo a sua promessa, o povo construiu o novo templo, o qual foi dado por concluído logo em 1693 e o conde capitão do donatário contribuiu para a capela mor. Uma ampliação foi concluída em 1719. Inscrições em duas pedras encontradas aquando da demolição da igreja em Setembro de 1945 confirmam estes factos, já que uma ostentava o brasão de D. Martinho de Mascarenhas e a outra uma cruz rematada com as datas de 1693 e 1719. (Francisco António Nunes Pimentel Gomes, A Ilha das Flores: da redescoberta à actualidade, Câmara Municipal das Lajes das Flores, 1997)

O templo foi reedificado em 1822. Em 1868, um relatório do Governador civil do ex-Distrito da Horta, na altura António José Vieira Santa Rita, considera-o em mau estado de conservação, com os paramentos e ornamentos muito deteriorados, e desprovido de cemitério, pelo que os enterramentos eram feitos no adro da igreja.

Alegando falta de solidez, a velha igreja foi demolida em 1945, sendo o serviço religioso transferido para a Casa do Espírito Santo vizinha. A primeira pedra do atual templo foi lançada a 22 de Janeiro de 1950, sendo benzido a 18 de Julho de 1953. (Jaime Leal Páscoa, "Benção e inauguração da Igreja dos Cedros das Flores", no Correio da Horta de 2 de Julho de 1953)

Ligações Externas[]